quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

POR UM GOVERNO POPULAR E DEMOCRÁTICO PARA O RIO!

Com Direito a passar o Carnaval no Rio!

Férias, verão de rachar, caos urbano no Rio, onde prefeito sugere que quem tiver sítio ou casa fora da cidade, vá para lá, inclusive durante a Copa. Pede também que não se critique o Rio na internet para que se possa viver mais feliz!

Isso atesta alguma coisa? Mais que uma, é claro. O que esses dois governos (estadual e municipal) do PMDB et caterva fizeram com o Rio?

Ora, a Copa virou a desculpa oficial para a maior ofensiva anti-popular das últimas décadas no Rio. E vai ter mais, depois da dita, virá a justificativa das Olimpíadas.

Os governos do Rio, do qual participa até o meu finado partido, contra a nossa vontade, se entregaram de corpo e alma aos negócios em torno da especulação imobiliária, das obras sem finalidade, para agradar empreiteiras. Jamais vi governos que estivessem tão desinteressados com o que se passa com a vida das pessoas da cidade.

Em nome da Copa, desalojaram milhares de pessoas à força – legalizada, às vezes, pela barbárie jurídica. E sempre pela falta de possibilidades dos pobres de contestação.

As manifestações que explodiram nas ruas foram acuadas por cassetetes, gás e spray, além de balas de borracha. Policiais se disfarçam de meliantes para meliar e acusar black blocs de tudo. Inocentes úteis são pagos, não se sabe por quem, para tirar o povo da rua, agindo irresponsavelmente.

Preparam uma legislação anti-terrorismo – é de gargalhar - para acabar com a democracia com participação popular.

O que acontece nos transportes é proibido de filmar nos horários de pique, e a Globo censura seus repórteres por terem tentado, o que prejudicaria a fluidez e a segurança dos passageiros!!! Os trabalhadores que gastavam 1 a 2 horas para chegar ao trabalho agora levam de 2:30 a 3:30 horas.

Ir ao futebol? Como? O ingresso de um jogo desimportante do Flamengo no Maraca, mais barato, foi de 100 reais. Cada time joga seis a oito vezes por mês. Quer dizer, o salário iria acabar só com o ingresso.

As UPPs (as agora famigeradas Unidades de Pacificação policial) matam e desaparecem com os corpos dos desafetos. E a classe média clama por mais polícia.

Mas o Rio continua lindo, e claro que queremos que os turistas gostem do que é feito em nome deles. Para os generosos cariocas poderem viver bem também é preciso outra coisa: Uma coalizão de forças de esquerda para acabar com o estado sub-facista do Rio. Sou, como, tantos outros, por uma coalizão popular e democrática contra o regime das elites: tecnocrático e  autoritário.

Precisamos somar forças e não nos deixar enganar por uma mídia que tem parte nisso tudo que aí está.

Enquanto isso, na serra ou na praia, nas ruas ou em casa: 

Suvaco do Cristo no Jardim Botânico:
Homenagem ao Bagulho legalizado no Uruguai.

Bom Carnaval!
- com a irreverência do Rio.

- Daqui não saio daqui ninguém me tira!


Eduardo de A. Costa

(Rio, 25 de fevereiro de 2014.)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

CRÔNICA DE DOMINGO DE IEMANJÁ

Águas Passadas.*

Em 1985, o Governo Leonel Brizola entregaria à população
 do Rio as 19 primeiras ambulâncias da Defesa Civil em
plena operação. Para isso, a Secretaria de Saúde e o
Corpo de Bombeiros trabalharam no projeto desde 1983.

Ouvi uma sirene do tipo de bombeiros, entre 11:00 e 12:00 horas de hoje. Fui à janela e vi que eram duas ambulâncias, daquelas vermelhas que criamos no Governo Brizola no Rio, em 1985, para emergências de rua; não era do SAMU.  Vieram na contramão, era dia de feira. Uma delas saiu, e antes da segunda partir, chegou uma patrulhinha. Estava tudo calmo na feira, visto de cima. Não ouvi tiros – seria uma queda de prédio ? – em geral dá alvoroço.

Minhas memórias são vívidas do início da operação dessas ambulâncias, da decisão de formar tenentes-médicos, da seleção de equipamentos, da central de informação, comunicação e controle, da decisão de montar oficina, e das críticas de nossos sempre contras. Em 1986, não tinha candidato no Brasil que não prometesse ambulâncias como aquelas. Pensei em fotografá-la, tantos anos passados. Mas demorei a descer para fazer a minha feira.

Interior de uma ambulância da defesa civil.
Condições de cirurgias e manobras de ressuscitação.

Depois do pastel, perguntei ao feirante o que houvera. “Um velho senhor foi morto a facadas pelo filho”, me disse, comentando que isso era um absurdo: - um filho não pode atacar um pai. Tentei dizer que…, mas ele de pronto disse que nada justificava. Não cheguei a falar em doentes mentais e drogados. Pensei: - já vi famílias destroçadas sem saber como se conduzir com filhos doentes ou viciados. Lembrei do suicídio de uma querida amiga e da peripécia para internar o seu filho, que claro não aceitava. Disse: - Bom..., é… E terminei minhas compras no ritmo calmo da feira de hoje. 

Lancho em casa e ouço no rádio: Eduardo Coutinho foi assassinado a facadas na Lagoa. Putz, não sabia que ele morava ali. Sua mulher também foi ferida e levada para o Miguel Couto. O filho ferido mais levemente é suspeito. Tinha problemas mentais. Que coisa trágica! 

Eduardo Coutinho (eduardocoutinho.blogspot.com.br)
Foto de Aspásia Camargo. 
Importamos um grande avanço: a desospitalização à italiana na doença mental, mas tudo que vira religião cria dissidências. Muita gente resistiu, mas claro sempre a resposta foi que defendiam interesses do setor privado hospitalar. Mas e o concreto das pessoas? Ninguém se propõe simplesmente a abolir - proibir – o fumo, “mudanças de comportamento são lentas”, mas apoiamos empurrar uma mudança completa no seio de famílias – claramente desejável – praticamente abolindo a internação psiquiátrica sem o consentimento do paciente - fiquei a ruminar. E os manicômios judiciários, como estarão? Bem, tudo melhorou no Brasil, ou não?

Ao escrever, vejo que devo esclarecer. Desde logo, aviso: antes da nova constituição, tivemos de lidar no Rio com a barbárie legada do tratamento asilar de doentes mentais. 

Três eram os hospitais psiquiátricos do estado (RJ): o de Jurujuba em Niterói, o de Vargem Alegre em Barra do Pirai e o de Carmo. Os dois primeiros eram os de filmes de horror, iniciamos a desativação. Este último era diferente, prestou modestos/bons serviços até 2002, sendo desativado em 2005. O resumo da situação era o abandono de e por todos. Mendigos e alcoólatras largados pela polícia à porta, sem identificação, passariam a viver naquele inferno. Ninguém reclamava o parente desaparecido, não havia para onde mandar de volta à família. Simples assim.

Como Secretário de Saúde fui convidado para a mesa inaugural de um primeiro Congresso Nacional de Psicanálise. A esses médicos e psicólogos disse que nada simbolizava mais o avanço na saúde mental do estado na nossa gestão do que a comemoração que fizéramos do primeiro mês em que em Vargem Alegre não tinha havido nenhum óbito por fome ou tuberculose – a média no passado era um óbito por dia. O ex-diretor era um PM! Colocamos um jovem pneumologista - Hélio Camerano!
(Registro que tínhamos um programa de saúde mental, bem dirigido pelo Maxim Sauma e depois pela Marisa Conde, mas não cabe falar disso.)

Agora, deixar as famílias sem alternativa para proteger-se e aos próprios pacientes, é outra coisa. Tudo depender de mandados judiciais e criar o sentimento de maus pais por quererem internar filhos em episódios graves é outra. É uma espécie especial de liberalismo à força.

No meio disso lembro de meu tempo de Inglaterra. Sem o alarde próprio dos latinos, reservaram leitos hospitalares em hospitais gerais e alternativas comunitárias. Mas sem a chave não adianta copiar: não funciona. Sem o médico GP – aqui médico de família, que acompanhando o paciente e a família ao longo do tempo, sabe quando tomar a decisão de internar imediatamente e como continuar o tratamento na volta, constrangemos as famílias as deixando, já fragilizadas emocionalmente, sem saber o que fazer.

Por isso, e muito mais, continuo a apoiar o mais médicos, mas não é só para as populações desatendidas: é para todos, principalmente para os milhões mal atendidos nos grandes centros urbanos: a saúde pública precisa dar atenção individualmente dedicada a TODOS. Para isso um serviço nacional ou único de saúde pública, com carreira para os profissionais da saúde. Quem sabe devessem todos conhecer nosso projeto experimental à época de “sistema de saúde em sua estrutura-tipo" para uma micro-região ou distrito: um hospital geral, policlínicas e unidades de atenção primária com o médico de família.

Vale a pena escrever sobre isso? Logo hoje, domingo 2 de fevereiro, dia de Iemanjá e Oxumaré - N. Sra. dos Navegantes – procissão de barcos no Guaíba?! Festa da melancia na meninice. Rajadas, doces, saborosas. As da feira não são como aquelas espalhadas no chão!

Eduardo A Costa – 02/02/2014.
*(editado retirando outro assunto da feira de domingo - será retomado noutra nota ou artigo)