Deputada Juliana Brizola e
Eduardo de Azeredo Costa
Eduardo de Azeredo Costa
O governo neo-liberal do PSDB-DEM revelou-se desastroso, de lesa
pátria, conforme manifestações de nosso líder Leonel Brizola. O PDT chegou a ir
às ruas para questionar a política de privatizações de FHC, lembrando que ele
não havia dito na campanha eleitoral que faria isso. Coletamos assinaturas
populares pedindo o seu impeachment por essa razão.
De outro lado a política de estado mínimo – restringindo inclusive
a realização de concursos públicos, exceto para grupos seletos na área de
justiça, por exemplo, e a pressão sobre os servidores públicos, sem aumento e
com estímulos a se aposentarem, demoliu a capacidade de dar resposta a
problemas do país na área de educação e saúde.
Restrição ao crédito e taxas de juros que chegaram a 45%,
desestimularam o investimento produtivo. Abertura comercial, com lei de
patentes que aceitou o pipeline, e declaração explícita de que o país
não devia ter política industrial, derrotou as possibilidades de retomada
industrial mais tarde. Reajustes do salário mínimo abaixo da inflação, criação
do fator previdenciário, mudança no regime de aposentadorias do setor público,
foram todas medidas recessivas e contra a economia popular. O país não cresceu
e deixou um saldo de 12 milhões de desempregados. E ainda legou um esquema de
financiamento escuso de campanhas eleitorais e cooptação de parlamentares para
que pudesse ser re-elegível. Um desastre de proporções catastróficas.
O PDT coerentemente se manteve na oposição durante os 8 anos.
Período Lula
Depois de ter participado numa chapa de oposição em 1998 (Lula
para presidente e Brizola para vice), em 2002, por considerar que a Carta ao
Povo Brasileiro do PT não satisfazia as propostas do PDT e considerar pequenas
as possibilidades de vitória de Lula – era sua quarta tentativa - não apoiou
sua candidatura inicialmente, mas sim a de Ciro Gomes que tinha uma proposta
mais firme em relação às questões econômicas.
Quando esta candidatura começou a perder o apoio popular e passa a
crescer a de Lula, Brizola, depois de tentar convencer Ciro a desistir, resolve
desembarcar e apoiar a candidatura do PT, crente que poderíamos ajudar a
definir as eleições no primeiro turno.
A preocupação com a manipulação da mídia e eventual fraude
eletrônica não se confirmou: o desastre FHC tirou as possibilidades eleitorais
de Serra no segundo turno contra Lula, este já apoiado formalmente pelo PDT.
Essa introdução é importante, porque depois de tentar influenciar
os rumos do governo do PT, o PDT resolve mais uma vez se afastar. O que levou a
essa posição? A ida imediata de Lula a Bush depois de eleito e a volta com a
definição de Henrique Meirelles para o Banco Central e logo a manutenção
inicial de todas as políticas macroeconômicas de tipo neoliberal, simbolizada
pelo “sucesso” de Palocci.
De outro lado a falta de um efetivo Conselho Político com
Presidentes dos partidos da coligação e por último a decisão de nomear
ministros do partido sem que esse fosse consultado precipitaram a decisão. Mas,
além disso, o governo pretendeu, com uma Reforma da Previdência, arrochar mais
os critérios e valores da aposentadoria, em cuja defesa o PDT se articulou com
outras forças. O PDT sai do governo antes da morte de Brizola, em junho de
2004, e do escândalo do mensalão, absolutamente limpo do episódio.
Todavia, a ida de Dilma para a Casa Civil começou a criar no PDT
uma visão positiva em relação ao Governo, pois abriu-se uma frente
desenvolvimentista. Alem disso, cresce dentro do PT o respeito ao legado de
Vargas, quando o poder da mídia e dos conservadores ameaça a governabilidade -
tudo contribuindo para novas possibilidades políticas de apoio ao Governo Lula.
De fato, na eleição de 2006, apos o primeiro turno, o PDT passou a
apoiar e participar de novo da coligação com o PT, assumindo o Ministério do Trabalho
e Emprego.
Se em 2006 a
política social era a maior determinante do apoio popular ao Governo Lula, com
destaque para o bolsa-família, o reconhecimento do segundo governo Lula se dá
por uma política mais consistente: redução de taxas de juros (de resto,
acontecendo em todo o mundo) e liberalização do crédito, que serviram de
estímulo ao consumo, alem da melhoria significativa na massa salarial pelo
aumento do emprego e elevação do valor real do poder aquisitivo do salário
mínimo. Também no setor público há uma reversão sendo realizados concursos
públicos. E é ampliado o PAC da infra-estrutura conduzido por Dilma. Por fim, a
descoberta do pré-sal e a mudança nas regras visando assegurar maior poder à
Petrobrás, vieram ao encontro das propostas históricas do trabalhismo
brasileiro.
Mas, a criação de 14 milhões de emprego nos oito anos do Governo
Lula-Dilma de 2003-2010, por si só tinha de levar o apoio de um partido
trabalhista. Mas havia mais: o estímulo à formalização do emprego com elevação
para mais de 50% de trabalhadores com carteira assinada.
Período Dilma
O apoio à candidatura de Dilma, já no primeiro turno em 2010, é
natural, pois, considerado o balanço positivo para os trabalhadores e para a
economia com a mudança de rumos em 2005-6.
O Governo Dilma deu continuidade às políticas do governo anterior,
ampliando as conquistas econômicas e sociais dos trabalhadores.
Todavia, o PDT sempre considerou que é necessária uma ruptura
maior com grandes entraves ao desenvolvimento que, ainda que estivessem na
pauta, avançaram bem menos do que esperávamos. A modernização que defendemos é
o trabalho saudável, a jornada de 40 horas semanais, o fim do fator
previdenciário.
De qualquer modo a Coligação governamental provou que aumentar
salários não aumenta o desemprego, não diminui a competitividade.
Balanço da contribuição do PDT para os Governos Lula-Dilma.
Na primeira fase, contribuímos com o que chamamos de apoio
crítico. Quem conhecia o PDT sabia que a crítica não levaria jamais o PDT para
o outro lado. Ajudamos a mudar o rumo do Governo em 2005 – não temos dúvida
quanto a isso - do lado de fora. Brizola pessoalmente foi às ruas contra a
ingerência americana no mundo, por exemplo.
A pressão por um projeto educacional de base esteve sempre
presente. Por isso também o senador Cristovão deixaria o Governo no mandato de
Lula.
No Ministério do Trabalho e Emprego a política voltada para a
juventude tem uma forte contribuição do PDT, bem como a melhoria do sistema de
informação sobre o emprego. Avançamos também na concepção do campo de atuação
voltado para a saúde e segurança no trabalho.
A atividade do MTE no caminho da erradicação do trabalho infantil
e do trabalho análogo ao escravo foram marcas do processo civilizatório nas
relações de trabalho no Brasil.
A presença do PDT no Conselho do BNDES e a gestão dos recursos do
FAT e do seguro desemprego não obstaculizou a implementação das diretrizes do
Governo, ao contrário, ainda que numa visão histórica do trabalhismo pudéssemos
ter avançado mais.
Foi ainda, na gestão pedetista do MTE, que se amplia o diálogo
social e a efetivação do tripartismo originário da OIT.
No campo parlamentar específico a atuação de deputado Brizola Neto
e seu ”blog” – Tijolaço – foram instrumentos do projeto de desenvolvimento com
soberania nacional.
Mas o mais importante é que nos transformamos em um obstáculo para
as propostas de revisão da CLT lesiva aos direitos estatuídos dos
trabalhadores, que tinha simpatia de amplos setores do PT, aliás, defendido até
por Lula.
Pauta do Governo do
Coalizão para os próximos 10 anos
O PDT considera que a
educação de qualidade para todos é um desejo das pessoas e das instituições
econômicas e sociais. Ainda que tenhamos avançado nesse sentido nos últimos dez
anos, está longe de satisfazer a esses desejos. Isso demonstram a presença do
analfabetismo estrito e funcional, número de anos na escola e qualidade do
ensino no Brasil.
Mas a vida urbana e
suburbana das grandes cidades brasileiras exige mais atenção. A questão
dos transportes de massa e a da habitação são cruciais para o desenvolvimento
econômico e social do Brasil.
Em termos de continuidade da proposta desenvolvimentista a questão
seria explicitar e aperfeiçoar o PAC da infraestrutura com compromisso
ambiental, alem disso, reunir várias ações para formular:
um PAC (TO) social: “Pleno emprego saudável para todos”, e
um PAC (TO) de desenvolvimento industrial soberano.
Não se pode deixar de mencionar um aspecto fundamental para o
sucesso desses programas: participação popular. Teremos enfrentamentos com
setores poderosos, inclusive transnacionais que através da mídia, de
parlamentares e governantes, e de seus métodos de coerção política
internacional, exigirão uma opinião pública com o sentimento de paternidade de
um projeto nacional que absorva esses PAC (tos), assumindo sua defesa. Não será
conquistado burocraticamente e através de negociações parciais de gabinete,
muito menos por ganhos de eficiência.
Não é possível falar de desafios ao governo sem mencionar os
marcos jurídicos/burocráticos que tendem a esvaziar as possibilidades de
avanços. Não há gestor público que se anime a inovar: os riscos pessoais são
imensos, sem dizer na máquina que quer repetir o que sempre fez e através das
denúncias estagna a administração. Os controles impedem o funcionamento.
Nesse sentido urge um projeto cultural bem diverso daquele que se
instaura apenas na organização do setor cultural e classe artística em
função de suas demandas, com submissão de projetos. Além dos editais
temáticos, há que criar estímulos para produção em massa de qualidade de
instrumentos de reflexão sobre o papel de cada um na história brasileira, nos
destinos do país de seus filhos.
Mas temos que ir mais longe, sempre há uma tendência de quem está
no governo a exagerar seus acertos. Por mais que o Brasil tenha avançado
econômica e socialmente há uma realidade a se debruçar bastante desconfortável:
Assim como somos o 10o país
do mundo em termos de concentração de renda, temos a 5a pior posição na América Latina em
relação aos indicadores de saúde.
Ora, levar adiante um projeto que não rompe nos setores sociais
com a mercantilização, que não cria barreiras para a importação desenfreada e
financia as grandes empresas estrangeiras não melhorará nossa posição no
ranking relacionado à qualquer aspecto do desenvolvimento social.
Não é possível avançar nessa agenda sem um definição clara sobre o
papel de uma mídia pública de qualidade e honesta. Precisamos fazer da EBC um
órgão autônomo, bem financiado pelo governo.
Uma visão para o avanço no desenvolvimento industrial soberano
Na infra-estrutura, o governo tem concentrado esforços na área
energética, mas em nossas deficiências no transporte de carga, na armazenagem,
na logística de modo geral precisam ser acelerados.
Há também ainda questões do desenvolvimento que devem ser tratadas
de modo integrado com o setor dito social. Para que o trabalho seja saudável –
afinal estima-se que 55 bilhões são as despesas diretas anuais do governo com a
acidentalidade no trabalho – é necessário estimular a obtenção de
competitividade através da inovação de processos e medidas voltados para a
segurança no trabalho, por exemplo.
Seria o que chamamos de desenvolvimento econômico e social a um só
tempo. E não cuidar de ambos paralelamente no mesmo tempo, o que, de qualquer
modo, no caso brasileiro, já foi um progresso.
Com nenhuma barreira tarifária, a indústria brasileira tem tido de
recorrer às solicitações de desoneração fiscal para competir. Essa batalha,
especialmente através do sistema patentário se mostra ineficaz em vários
setores e os acordos de transferência tecnológica são instrumentos também de
reserva de mercado.
É fundamental rever o conjunto, em especial no setor de
equipamentos e medicamentos.
Reforma Política
O PDT tem se distinguido na
luta pela adoção da apuração eletrônica verdadeiramente segura. A nossa não é.
A Venezuela adotou o sistema proposto: alem de digitado, o voto impresso é
depositado numa urna. Sempre haverá possibilidade de conferir os resultados.
Mas essa não é a única
questão. Precisamos reduzir drasticamente o poder econômico nas eleições.
Apoiamos o financiamento público estrito das campanhas e o voto misto,
distrital e proporcional em listas partidárias, desde que o ordenamento das
listas seja votado democraticamente dentro dos partidos.
Os partidos de qualquer modo
precisam de uma lei orgânica nova: eles mais se assemelham a ONGs, recebendo
dinheiro público. Partidos sem organização democrática não podem governar
democraticamente.
A reforma política
proposta pela Presidente Dilma, no auge das manifestações de julho no pais,
descuida, no entanto, desse aspecto, propõe mudar mais as regras e detalhes
eleitorais e o financiamento das partidos do que a essência democrática dos
mesmos – o cerne das manifestações, segundo muitos, é que os partidos se
distanciaram das suas bases populares. Não possuem projeto de pais, nem uma
direção estratégica para o desenvolvimento brasileiro – como se isso fosse
assunto apenas de governo.
Em 22/05/13
Juliana Brizola – Deputada
estadual, secretária geral do PDT RS.
Eduardo de Azeredo Costa –
membro do PDT RJ.
* (notas escritas
originalmente para responder a perguntas para um livro que está no prelo1) – houve um pequeno re-ordenamento e
acréscimos que estão em itálico, de 1o. julho. Marcamos esse fato para que se perceba a visão que
tínhamos antes das manifestações e como estavam absolutamente concertadas com o
sentimento do país que aflorou nas mesmas.
1 DEZ
ANOS QUE ABALARAM O BRASIL – E o futuro? – João Sicsú – Editora Geração – São
Paulo, julho 2013.
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