(Homenagem
a João Goulart e Wilson Fadul)
Nesses dias
a mídia relançou a participação de Kennedy na decisão de invadir o Brasil, caso
os golpistas brasileiros não conseguissem derrubar o governo sem a presença direta dos
marines americanos no solo brasileiro. Tudo ouvido diretamente da boca de
Kennedy e, como ouvimos antes, diretamente e cruamente também da de Lindon
Johnson.
Jango é recepcionado em NY, 1962. |
O que dá
engulhos, no entanto, é a sempre participação do agente falcão americano,
designado na época de “embaixador” Lincoln Gordon – sempre ele - tramando sem
parar para derrubar o governo João Goulart. Sobre ele, quando em entrevista recente disse que o golpe de 1964 foi
um êxito completo, proclamando-o como a maior vitória do “ocidente” na Guerra
Fria, maior até que a queda do muro de Berlim, escrevi: o Embaixador do Vietnã
do Sul, em Saigon, nunca pode dizer o mesmo: teve de fugir quando os Estados
Unidos foram derrotados militarmente por Ho Chi Ming, o General Giap e povo vietnamita, em 1975.
Na Casa Branca, de pé: L.Gordon, R. Campos, S.T.Dantas e R. Goodwin. |
Revelar
essa intenção de invasão do Brasil hoje é pouco. É preciso dizer com todas as letras, que até mapa existia da
divisão do Brasil se houvesse resistência militar. O mapa considerava que a
resistência seria no sul, com Brizola liderando, o que seria o Brasil do Sul. O
Brasil do Norte iria até Pernambuco. O mapa que vi recentemente, separava a
Amazônia e parte do Nordeste, que seriam anexados aos Estados Unidos – ocupados
e governados por eles.
Naqueles dias
de março, Santiago Dantas, que estava afastado do Governo, muito amigo do
Fadul, contou a ele o que sabia, e Fadul disse que falasse direto com o Presidente sobre o assunto e marcou a
audiência. No dia 1o. de abril, na
reunião com o General Âncora, interino no 1o. Exército, Jango viu o
mapa, segundo Fadul. E desfez qualquer ordem de dissolver o levante de umas
poucas unidades facilmente sufocáveis. Não autorizou também que a FAB
bombardeasse as tropas do General Mourão. Só deram um rasante que foi um espalha
baratas.
Voltou a
Brasília, naquele dia. E de lá mais tarde rumou para Porto Alegre, onde chegou
de madrugada do dia 2. Enquanto viajava, o Congresso dava o golpe, declarando
vago o cargo. Na posse, na madrugada, de Rainieri Mazzili, o secretário da
embaixada americana era um solitário representante, que a todo instante falava
com Gordon, que transmitia a Johnson. De manhã Johnson já havia reconhecido
oficialmente o novo governo brasileiro. Em Porto Alegre, Jango avaliou o quadro
e resolveu não resistir, não queria derramamento de sangue, o Brasil fraturado.
Saiu do Brasil no dia 4 de abril. Evitou, segundo muitos, termos um Brasil do Sul e um do Norte.
Manteve a Amazônia brasileira. Mas o preço pago foi muito alto. Não se esperava a barbárie que viria à frente. A concertação com golpes em outros países latino-americanos.
Na raiz do
ódio contra Jango estavam os interesses da Bond&Share e da ITT, nacionalizadas
por Brizola, o 13o. salário e a memória de sua disposição de melhorar salários,
além é claro das reformas de base propostas. A campanha em 1963, liderada por Fadul contra
as multinacionais dos medicamentos, foi um duro golpe nas fraudes contábeis que
permitiam a exploração do país.
Fadul na sua posse como Ministro da Saúde em 1963. |
Por
estranho, também, o movimento sanitário brasileiro homenageou Fadul em vida
pela 3a. Conferência Nacional de Saúde, onde a municipalização da atenção básica
foi proposta, mas silenciou sobre a maior contribuição de Fadul para a defesa
da soberania nacional: a denúncia das práticas das multinacionais dos
medicamentos - o enfrentamento mais popular do período João Goulart.
Eduardo
Costa em 07/01/2014.
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