quarta-feira, 12 de março de 2014

CARTA AOS PEDETISTAS DO RIO


Em 13 de março de 2014 - 
A propósito das eleições para Governador do Rio de Janeiro.
Comício da Central do Brasil de 13 de março de 1964
Há 50 anos o Rio de Janeiro assistiu um dos mais memoráveis comícios de sua história política. Na Central do Brasil, em evento protegido pelo Exército Brasileiro, pelo menos 150 mil pessoas ouviram do Presidente João Goulart as iniciativas que tomava no caminho das Reformas de Base, inclusive a reforma agrária e a reforma urbana, que preparariam o país para o crescimento harmônico e sustentado.
Brizola acena ao ser ovacionado no Comício da Central
O comício foi usado pela direita brasileira, com o apoio dos Estados Unidos da América, para efetivar o golpe militar alguns dias depois. Leonel Brizola, que sobreviveu ao mais longo exílio da história política brasileira, estava presente, armado, por saber que era alvo dos fascistas do país.
Na re-democratização consentida, com salvaguardas aos golpistas, torturadores e instituições que os apoiaram, a manipulação, o medo e a cumplicidade de oportunistas não permitiriam que houvesse outro presidente trabalhista no Brasil.
Os presidentes trabalhistas, Vargas e Jango, falavam para o povo fora do período eleitoral. Os presidentes atuais falam para os investidores estrangeiros ou para o "mercado".
Click aqui para ouvir dois minutos do discurso de Jango na Central
Mas, Brizola volta com o trabalhismo entendido por ele, em Lisboa, como o caminho brasileiro para a construção do socialismo em liberdade. E, apesar da fragmentação do trabalhismo imposto na transição, se torna a razão histórica que deu vida ao Partido Democrático Trabalhista e o líder que nos conduziu, com coerência e coragem, sempre ao lado dos anseios do povo brasileiro e na vanguarda política do país.  A sua ausência foi sentida por nós pedetistas como a mais intensa e indestrutível das presenças!
É lamentável a crise no PDT: passados quase dez anos da morte de Brizola - a falta da referência daquele norte que ele simbolizava - tornaram mais difíceis nossas decisões e ainda mais difíceis os nossos consensos. Recentemente perdemos 1/3 de nossa bancada federal, agora reduzida para 18 deputados.

É absolutamente natural e comum que existam tendências e grupos que pensem estratégias políticas diferentes e que, portanto, disputem a maneira de conduzir um partido e a realização de seu programa. Respeitar as divergências é a chave para o convívio democrático, é a chave para o crescimento de um partido. Mas, o respeito a regras democráticas consensuadas é imprescindível para a união na diversidade. Assim sendo, o horizonte do debate, bem como os seus limites, são a democracia interna e o programa do partido. 
No nosso caso, a situação é complicada do ponto de vista do processo democrático. Mas, ao programa ao qual aderem todos, se soma um patrimônio trabalhista inestimável, que podemos chamar de “legado brizolista”. Trata-se da memória viva, das corajosas posições que Leonel Brizola assumiu em favor do povo brasileiro em tantos momentos cruciais da história do Brasil, oferecendo inclusive a própria vida. Brizola retomou após o Golpe de 64 o ideário de Getúlio e Jango. 
É com esse programa e esse legado que contamos neste momento em que enfrentamos um quadro preocupante no estado do Rio de Janeiro. O apoio incondicional e a aliança política que a direção do PDT estabeleceu com o Governador Sérgio Cabral podiam ser entendidos há alguns anos; hoje queremos compreendê-los, pois temos clareza que não há nada mais antagônico ao programa do PDT do que a prática do Governo Cabral. Na antevéspera de um processo eleitoral, parece inoportuno manter o partido atrelado a um projeto político elitista e sanguinário, que implementa uma política de segurança violadora dos direitos humanos, que inverte prioridades agravando o problema da mobilidade urbana e abandona a inegável contribuição brizolista para o desenvolvimento e universalização da educação e da saúde pública.
Nós queremos dizer que respeitamos os quadros partidários que prestam seus serviços no Governo Estadual, e tendem a apoiar o candidato do PMDB ao governo, mas queremos convocar todos os bravos brizolistas que ainda compõem o PDT do Rio para cedo despertar, como nas madrugadas trabalhistas a que nos levava Brizola ante o busto de Vargas, onde líamos a carta-testamento.

Fazemos um apelo aos companheiros num clima elevado para que revejam, pois, essa posição. Por fragilidade eleitoral, está também descartada uma candidatura própria. Por essa razão, mais do que nunca, devemos procurar, no grave momento pelo qual passamos, com milhões de pessoas insatisfeitas, que se manifestaram nas ruas em uníssono contra esse governo estadual, uma candidatura de esquerda que se comprometa publicamente com um programa mínimo na educação, na saúde e na segurança pública, que Vargas, Jango e Brizola subscreveriam.

Essa posição será bem entendida pelos trabalhistas e brizolistas dispersos, pelos simpatizantes e eleitores do velho PDT de Brizola, que tantas vitórias nos deram. Sobre ela reconstruiremos um partido capaz de viabilizar candidatos majoritários para oferecer ao eleitorado do Rio num futuro próximo.

Assinam: ex-Ministro Brizola Neto e ex-Secretário Eduardo Costa.

terça-feira, 4 de março de 2014

WELLS E WELLES

Uma dupla do barulho.

Com esse título, Franklin Cunha, médico e escritor gaúcho, discute a política brasileira, face aos profetas da catástrofe econômica que se avizinharia. Achei muito interessante, porque nada mais ridículo hoje do que os comentários econômicos publicados nos jornalões, mas sugiro que a leitura seja acompanhada de outra, de João Sicsú, publicada na Carta Capital online, veja aqui.

Eis o artigo do Franklin:

Para formar  e formatar a opinião da coletividade em que atua, os meios de comunicação sempre contam com a ausência de conhecimentos históricos, políticos e econômicos de quem os lê, vê e ouve. Uma vez que torna  tão desvalida e inerme sua pretensa  massa crítica, aprofunda sua situação acrítica e não tem nenhum interesse em retirá-la do limbo dos desconhecimentos e das desinformações.

Orson Welles ao tempo de radialista.
Era com esta situação do povo americano que contava Orson Welles quando dramatizou pelo rádio a novela de Herbert George Wells  “A guerra dos Mundos".  Corria o ano de 1938, os EEUU ainda não tinha se recuperado da grave crise econômica da década, estava às vésperas da segunda guerra do século, desencadeada pelas potências imperialistas de turno, os americanos se encontravam muito nervosos, inseguros e num absoluto estado de graça do que verdadeiramente se passava em seu país e no mundo.

Welles então, elaborou um programa de rádio que criou o pânico em milhões de americanos de costa a costa. O rádio à época era ouvido em todas as famílias do país que se juntavam em torno dele depois da janta para se entreter, que ninguém se dispunha ouvir notícias desagradáveis depois de um dia estafante de trabalho. De repente, desse eletrodoméstico amigo, aconchegante como o gato ou o cão da casa, surgiram notícias de avassaladora destruição apocalíptica. Hordas de marcianos estavam invadindo a terra. O gênio histriônico de Welles a relatava com grande convicção e assim despertou sentimentos que certamente estavam em algum lugar secreto da consciência da população.E estes eram, certamente temores, terrores e incertezas quanto ao futuro da sociedade americana.

O momento histórico que estamos vivendo em nosso país, está sendo midiaticamente profetizado por incertezas, dúvidas, pessimismo e mesmo por previsões da invasão de uma horda de leis restritivas às conquistas populares criadas pelos últimos governos e originadas, tais leis,  no espaço  sideral do governo planaltino para depois das eleições. As más previsões, até já usufruem do gozo de sermos derrotados fragorosamente na esperada disputa esportiva do próximo mês de junho.  


Mas, sendo evidentes e incontestáveis os progressos sociais como o pleno emprego, o aumento do consumo de bens e serviços devidos à entrada no mercado de 40 milhões de brasileiros, a inflação controlada, as excelentes safras, a extensão de cuidados médicos todos os rincões do país, fica difícil, portanto, diante de todos esses fatores positivos, insuflar nas diversas camadas populares, o pessimismo, a desesperança e o pânico desejados por alguns setores políticos. Nem mesmo conseguem modificar as preferências eleitorais comprovadas nas muitas pesquisas já realizadas.


E depois, cá para nós, os arautos do catastrofismo que excretam diariamente previsões de desgraças e desalentos por certos meios de comunicação, não têm, nem de longe, a genialidade da dupla Wells e Welles, realmente uma dupla do barulho.