(Homenagem ao amigo Afonsinho)
No rescaldo
de um final de brasileirão, há mais do que o lamentável episódio de uma briga
de torcidas, aparentemente promovida, aos que viram pela TV, por bruta-montes
raivosos.
Afonsinho - Passe Livre |
O ano foi marcado
por manifestações contra os gastos
públicos em estádios, a prepotência de dirigentes da FIFA e a submissão de governantes
aos desígnios do espetáculo comercial, financiados todos pelo povo brasileiro e seus impostos. (Mesmo quando se fala em dinheiro privado, a maior parte é público, já que por nossa constituição a propaganda abate dos impostos das empresas).
A beleza de
um casal 20, nada a ver, coroou a artificialidade do espetáculo do sorteio da Copa do Mundo no Brasil.
Isso acontecia enquanto um PRESIDENTE da República, a quem foram negadas pela ditadura militar as honras devidas ao falecer, quem sabe assassinado, era re-enterrado. O significado para o país já tinha sido exposto: o Congresso anulou a vergonhosa sessão, acompanhada por funcionários da embaixada americana, das primeiras horas de abril de 1964. Para uma “necrópsia”, seus restos mortais foram recebidos com honras pelo governo brasileiro em Brasília. Por que levar, grande brasileiro que foi, o reformador João Belchior Goulart, o popular JANGO, à sua última morada, onde estão outros trabalhistas de envergadura histórica?
Jango é levado à tumba por parentes, amigos e populares em São Borja, 1976. |
Isso acontecia enquanto um PRESIDENTE da República, a quem foram negadas pela ditadura militar as honras devidas ao falecer, quem sabe assassinado, era re-enterrado. O significado para o país já tinha sido exposto: o Congresso anulou a vergonhosa sessão, acompanhada por funcionários da embaixada americana, das primeiras horas de abril de 1964. Para uma “necrópsia”, seus restos mortais foram recebidos com honras pelo governo brasileiro em Brasília. Por que levar, grande brasileiro que foi, o reformador João Belchior Goulart, o popular JANGO, à sua última morada, onde estão outros trabalhistas de envergadura histórica?
Ainda que esse processo de exclusão dos trabalhadores dos estádios de futebol do mundo,
conduzido pela FIFA, tenha origem na Inglaterra de Thatcher, é no Brasil de
hoje que assume dimensão de política pública e adquire o requinte de verdadeira
crueldade, dada a paixão popular por esse esporte entre nós.
Carlos
Lessa nos falava, em entrevista na página do Inova RIO, da luta para reinventar
a cultura popular sob o assédio permanente das forças privativistas. No
epicentro desse fenômeno no Brasil, o Maracanã, isso é, nós todos, fomos
assaltados no decorrer do ano, por conluio entre o poder público e empresas privadas. Temos de ser
gratos aos jovens manifestantes que denunciaram e expuseram a todos verdadeira
trambicagem anti-popular que estava montada.
O
recuo do Governador na TV, no entanto, foi teatral. Como o poder público conclui
que o contrato tem ilegalidades e coloca nas mãos do grupo empresarial beneficiado decidir
se quer continuar ou desistir?
Isso
beira o ridículo, uma ópera bufa em meio a uma cerimônia de sepultamento das tradições
do Maracanã: - público, estatal e popular, que há mais de 50 anos funcionou
bem, até melhor do que nesses dias de hoje, e, claro poderia melhorar, em
particular na segurança, não nos cosméticos. Ainda que o policiamento hoje
seja, excepcionalmente, muito grande, quem o assumirá junto com os lucros no futuro?
Empresas de vigilância na área externa? Mas, mesmo na parte interna, se der
tumulto, será visto o quanto despreparada ela é - onde estava no estádio de Joinville hoje?
O
Ministério Público que fez campanha pela televisão em meio às manifestações
para preservar seu poder de investigação independente, a serviço do cidadão,
ajuizou essa causa, mas não vem a público dizer o que sabe, apesar dos reclamos
gerais? Quem impetrou a liminar para impedir a ação civil pública contra esse
contrato? O estado ou o concessionário?
Não
pode passar desapercebido, que se trata de uma política pública, pois os
principais instrumentos para efetivar a exclusão dos trabalhadores do futebol
são exercidos por serviços concedidos pelo estado.
Não
se trata apenas de privatizar o Maracanã e seu entorno por 35 anos, cobrando ingressos
a preços exorbitantes, degradando a área da Quinta da Boa Vista, onde a
população de boa parte da zona norte passeia nos fins de semana. Trata-se,
antes de tudo, da concessão e financiamento publicitário da TV Globo e seus
associados que monopolizam a transmissão, interferem, por seus interesses
comerciais, no horário dos jogos, inviabilizando a presença de trabalhadores, e
os transmitem em pay per view a
preços elevados.
A
novidade, recentemente divulgada, é que os bares e casas de diversão terão de
assinar contratos especiais para colocar esses jogos no ar. Fecham o cerco
sobre os botecos da periferia, onde o trabalhador podia ver o jogo com os
amigos. Isso é a última perversidade que referi antes.
Mas
tem mais, enquanto o transporte público, concedido a empresas, é deficiente,
mal distribuído, sempre sacrificando os trabalhadores, e objeto da revolta
popular que se alastrou de São Paulo para todo o Brasil, a proposta principal
do consórcio, além do shopping travestido de centro de convivência, é construir
garagens/ estacionamento para automóveis particulares.
O
risco da solução de entregar o Maracanã para um consórcio dos principais clubes
do Rio já foi visto pelo valor de ingressos de jogo decisivo pela Copa do
Brasil, imposto pelo Flamengo. Até podem fazer parte de um conselho, mas
lembremos do Carnaval da Passarela do Samba: o poder econômico sobre essas
entidades privadas acaba as tornando instrumento anti-popular. Nesse último Carnaval,
depois de muitos anos, voltei à Passarela, e apesar do emocionante espetáculo de sons e cores vi com tristeza o
domínio da propaganda comandada pela Globo, ela mesma que se auto-expulsou do
Passarela quando Brizola e Darcy a criaram. Nesse processo até os velhos
sambistas das escolas foram substituídos pelas ”personalidades” comerciais.
Jair Marinho - Paquetá 2013 |
A
esperança vem do Bom Senso de jogadores, que re-editam maestros dentro e fora
do campo. Líderes com responsabilidade social.
PELO
MARACANÃ PÚBLICO, ESTATAL, EFICIENTE, POPULAR, mais uma vez modernizado pelo
dinheiro do povo do Estado do Rio de Janeiro, e mais e mais generoso e
acolhedor com as famílias de aficcionados.
Eduardo
de Azeredo Costa, agosto de 2013, complementado em 08/12/2013.
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