Em 1812 os soldados britânicos levavam nas mochilas latas de conserva, mas tinham de abri-las com a baioneta; caso não conseguissem, um tiro de fuzil resolvia o problema, mas perdia-se parte ou todo o conteúdo da lata.
Em 1824, o explorador inglês William Parry, também as levou na sua viagem ao Ártico. Nelas lia-se a seguinte recomendação: “Corte-se com formão e martelo, ao redor da parte superior”.
A
lata de conserva foi inventada na Inglaterra em 1810 pelo comerciante Peter
Durant, no entanto o abridor de latas só foi inventado, quarenta anos após pelo
norte-americano Ezra Warner. Era um instrumento rombudo e pesado. Havia o risco
de perder-se o conteúdo como com o tiro de fuzil.
A
história parece absurda, mas é verdadeira. Como foi possível inventar a lata de
conserva tanto tempo antes de se inventar o instrumento que as abrisse?
No
entanto, ultimamente, as mais confiáveis publicações médicas do mundo, andam
preocupadas com um fenômeno semelhante que está se dando na produção e divulgação
científicas: existem no mercado muitas latas cheias de informações, só que não
se pode abri-las com baioneta ou com formão. Deve-se usar um abridor
adequado para cada lata e muitas delas contém produtos inapropriados ao
consumo.
Editam-se,
atualmente, publicações médicas em quantidades oceânicas. Qual o abridor, qual
o critério para se avaliar o valor e a integridade científica dos conteúdos, já
que a seleção torna-se imperiosa diante da exigüidade de tempo dos
profissionais?
Além disso, vivencia-se hoje, - e não apenas na área médica - uma verdadeira guerra de informações que necessitam ser criticamente interpretadas, pois nelas se baseiam as decisões clínicas e, em última análise, a saúde e a vida dos pacientes.
Acontece que os textos médicos, freqüentes vezes, estão de tal forma contaminados por implicações econômico-financeiras, que já se realizam simpósios, os quais ensinam como valorizar os referidos textos ou como separar o joio dos interesses econômicos, do saudável trigo da genuína informação científica. Um simpósio, foi recentemente realizado em Oxford, Inglaterra. Nele, foram criticamente examinados, os vários métodos de se realizar e julgar a validade de trabalhos científicos ou assim chamados.
Os
resultados e as conclusões do referido simpósio, forneceram justificadas
preocupações. Não houve acordo sobre o melhor método de se elaborar um trabalho
científico e de como dar crédito à sua validade. Ao se medir a qualidade
dos trabalhos (desenho, condução, consistência de resultados e relevância
clínica), não ficou claro como isto deve ser feito. Combinações baseadas em
evidências, revisões sistemáticas e aleatórias, seria o sistema quase perfeito,
mas não há meios de executá-lo em todos os textos.
O
simpósio de Oxford, não chegou a um consenso a respeito de qual o melhor método
de se avaliar a literatura médica, no entanto num ponto houve acordo: em certos
assuntos, as conclusões resultantes parecem depender apenas das ligações
econômico-financeira dos avaliadores com empresas de medicamentos e de
equipamentos.
Foi também recomendada, a realização de revisões que levem em conta a perspectiva dos pacientes, incluindo o risco potencial de certos tratamentos, a qualidade de vida resultante e os custos econômicos e sociais de certas terapêuticas que vêm e vão, como as roupas da estação.
*(Artigo do livro do médico Franklin Cunha: “A LEI PRIMORDIAL “, Prêmio melhor
Livro de Ensaios de 2005, conferido pela Associação Gaúcha de Escritores.)
Trouxe a crônica médica do Franklin por ter associado à ela fatos que unem mais concretamente a questão dos enlatados e a qualidade de artigos científicos, no seus espectros simbólicos. O Clostridum botulinum foi primeiro identificado ao final do século XVIII na Bélgica, numa intoxicação de uma banda em uma festa comunitária. Mas foi dentro dos enlatados de conservas de presunto que chegaria pela guerra franco-prussiana à França. O Clostridium é um bacilo estritamente anaeróbico, isto é, cresce na ausência de oxigênio. A compressão de carnes, naquela época, para fazer presuntos aumentava o risco do desenvolvimento de sua toxina que produz paralisias e mortes. A industrialização e a pasteurização, em particular, quase eliminaram o temido botulismo do mundo. Como aqui no Brasil os consumidores são menos exigentes em termos sanitários as intoxicações ainda acontecem: conservas caseiras são fonte de intoxicação. Mas as conservas industriais não estão livres de problemas, inclusive de outros perigos: conservantes químicos e o excesso de sal estão presentes nos enlatados de modo geral, sendo riscos para cânceres e hipertensão arterial pelo uso cumulativo. Ora os artigos científicos ou pseudo-científicos que circulam no Brasil tem esse mesmo perfil: alguns primários causam intoxicação grave, destroem neurônios, levam a uma medicina burra. Outras vezes são uma intoxicação crônica e progressiva, que pelo inchaço e tumorações deformam e conduzem ao desastre sistêmico. Não poderíamos deixar de lembrar, como alerta sanitário, que o BOTOX nada mais é do que a toxina botulínica em quantidades pequena, que leva a paralisia localizada, destruindo ligações nervosas que levam meses para se recompor da agressão. Os riscos e acidentes desse procedimento, extremamente usado no Brasil, é bem conhecido em emergências e serviços especializados.
ResponderExcluirentão é arriscado fazer botox no rosto, mesmo que seja bem leve, Dr. Eduardo?
ResponderExcluirSim Eme! Sem dúvida.
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