(Homenagem científica a Geoffrey Rose)
Introdução:
O desbravador da cardiologia preventiva no Brasil, professor
Aloysio Chechella Achutti, lembrou-me que em novembro desse ano estávamos
celebrando os 20 anos da morte de Geoffrey Rose.
Geoffrey Rose foi o orientador de minha tese de PhD em Londres, do
que me orgulho. Professor brilhante, crítico agudo das fraquezas das evidências
de artigos científicos publicados nas mais renomadas revistas médicas, deixou
para os epidemiologistas uma revisão de conceitos de risco e de aplicação dos
mesmos em pessoas e populações, que o tornaram um dos mais notáveis
epidemiologistas do mundo, ao fazer a ponte técnica entre clínicos e sanitaristas.
Geoffrey Rose |
“…Nós temos uma responsabilidade pessoal com a prevenção, tanto na
pesquisa como na prática médica. Quando os médicos não aceitam essa
responsabilidade, a prevenção é assaltada por propagandistas acríticos, por
impostores e por interesses comerciais escusos.”
Sinopse explicativa:
Em 2012, o Ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Daudt Brizola,
me designou para representar o ministério numa audiência pública no Supremo
Tribunal Federal, sobre uma ação de inconstitucionalidade de lei estadual que
proibia o uso do amianto no estado de São Paulo. Outros estados também têm essa
lei, mas nada existe a nível federal. Após essa audiência foram proferidos dois
votos: o Ministro Carlos de Britto antes de se aposentar votou a favor das leis
estaduais e o Ministro Marco Aurélio contra as mesmas. Pelo óbvio e incessante
envolvimento do Supremo com o caso conhecido como Mensalão, até hoje não
ocorreram, creio, outros votos.
Naquela audiência, a minha apresentação, datada de 24 de agosto, homenageou
Getúlio Vargas, mas foi baseada exatamente no trabalho de Geoffrey Rose. Para a
mesma, vários colaboradores contribuiram com dados.
As apresentações de alguns professores e outros, inclusive
representantes de outros ministérios, foi lamentável por demonstrar completo
despreparo metodológico e singular viés pró-indústria: impossível não lembrar
de novo Geoffrey Rose na frase da introdução.
Argumento central: ocorrem mais casos entre os de baixo risco!
A indústria do amianto no Brasil quer reduzir os casos de
mesotelioma com a melhoria do controle nas fábricas, onde o risco individual é
alto: 100 vezes maior do que na população geral. Ou seja, uma estratégia de
alto risco. Confrontei esse dado, não só com a precariedade do controle nas
fábricas, mas com o risco coletivo: na população geral que tem risco relativo
tão menor, ocorrem 100 vezes mais casos. Quer dizer, ocorrem mais casos entre
os que tem mais baixo risco! A única estratégia para acabar com a maioria dos
casos é a proibição total do uso, comercialização e produção do amianto no
Brasil, como outros países o fizeram. A força demonstrativa do argumento de
Geoffrey Rose causou um impacto considerável. Esperamos que afete os votos dos
demais ministros. Mas, se alguém me perguntar porque uma medida provisória ou
uma lei do congresso não faz isso, só posso responder que nessa forma de
democracia, os interesses privados de multinacionais estão acima dos interesses
da saúde.
Para ilustrar, essa publicação anexa o conjunto de diapositivos
que utilizei e o link do vídeo da exposição no STF. http://www.youtube.com/watch?v=jBpOuQbimo0
Slides - http://www.slideshare.net/eduardodeazeredocosta/audincia-pblica-sobre-o-uso-do-amianto
*Eduardo de Azeredo Costa, 30 de
novembro de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário